Meditações
E se um alienígena viesse à Terra estudar a igreja brasileira?
Entrevista entre um “Alienígena” e um “Terráqueo” sobre o cristianismo! Observando o comportamento dos cristãos da Terra. Situação vergonhosa.
O alienígena chegou à Terra com a missão de coletar dados e observar a prática do cristianismo entre nós. Ele passou um bom tempo indo a cultos, assistindo a programas de TV evangélicos, participando de atividades de ministérios, lendo livros cristãos, acompanhando as postagens de protestantes mas mídias sociais… enfim, aquele alien mergulhou profundamente no universo do cristianismo brasileiro de nossos dias. Recentemente, ele retornou ao seu planeta de origem. Mas, antes de partir, aceitou me conceder uma entrevista exclusiva, para falar sobre suas percepções. Compartilho a seguir esse bate-papo na íntegra.
ZÁGARI – O que o motivou a vir à Terra estudar a Igreja cristã brasileira?
ALIEN – Há muitos anos visitamos o seu planeta, com o objetivo de descobrir o que há de melhor nele, a fim de levar para nossa cultura as coisas boas da Terra. Logo que nossos primeiros exploradores chegaram aqui, ouviram falar desse negócio chamado cristianismo e se interessaram em conhecê-lo mais.
ZÁGARI – E como fizeram isso?
ALIEN – Eles descobriram que a essência do cristianismo estava descrita num livro. Por isso, decidiram abduzir um exemplar, traduzi-lo e estudá-lo.
ZÁGARI – E como foi essa experiência?
ALIEN – Cara, foi sensacional! Nada na Terra despertou mais o interesse do meu povo do que o cristianismo. Que conteúdo extraordinário! Minha gente ficou encantada com Jesus e sua mensagem. Incrível, nunca em nossa civilização tivemos algo semelhante. Que mensagem! Um pensamento que fala de amor, gentileza, carinho, alegria, paz, paciência, tratar bem quem nos trata mal, abrir mão de si pelo outro, depender de Deus para tudo e não dos esforços pessoais, santidade… Meu camarada! Fala sério, que negócio incrível!
ZÁGARI – E como vocês…
ALIEN – Ah! Desculpe interromper, mas não posso deixar de mencionar: graça! Que conceito ex-tra-or-di-ná-ri-o! O entendimento do que é graça mudou a vida em nosso planeta! Perdão sem merecer, bênçãos sem merecer, vida eterna sem merecer… tem coisa mais linda que isso?
ZÁGARI – (risos) Então, em resumo, você está dizendo que o conteúdo da Bíblia transformou o povo de seu planeta?
ALIEN – Totalmente! Como não transformaria? Passamos a entender a partir da mensagem de Cristo que devemos amar sempre e a todos. Até mesmo nossos inimigos! Tem noção do que esse entendimento fez no meu planeta? Não temos mais guerras, mas, em tudo, promovemos a paz. Passamos a fazer coisas e agir sempre em benefício do próximo. Não há mais crimes. O perdão tornou-se prática prioritária nos relacionamentos. Nós nos tornamos contritos, amáveis, abnegados, devotados. Passamos a valorizar muito menos os bens materiais, promovendo a solidariedade e ajudando o próximo. Nossa vida de lá para cá é muito melhor, consegue acreditar?
ZÁGARI – Mas isso tudo só a partir da mensagem de Cristo? Como é possível?
ALIEN – (silêncio confuso) Desculpe, não entendi sua pergunta.
ZÁGARI – Você está dizendo que apenas conhecer o evangelho transformou radicalmente a forma de ser do seu povo. Isso é possível?
ALIEN – (ainda confuso) Ué… Mas não é essa a proposta do evangelho? Não entendo você perguntar como seria possível uma mensagem de transformação… transformar. (risos) Se uma mensagem de transformação como o evangelho de Cristo não transformasse, algo estaria errado. Ela faz de pessoas desonestas guardiões da ética; de gente arrogante, servos humildes e devotados; de egoístas, pessoas altruístas; de indivíduos explosivos, mansos de coração; e assim por diante. As boas-novas de Cristo mudam o caráter e o temperamento. (pausa silenciosa e pensativa) Entenda, Zágari, que nós abraçamos verdadeiramente a mensagem de Jesus. E como seria possível fazer isso e não viver plenamente o cristianismo? Nós nos tornamos amorosos, alegres, pacíficos e pacificadores, pacientes, bondosos, amáveis, fiéis, mansos e autocontrolados. E isso mudou tudo. Na bandeira de nossa confederação de nações inserimos como slogan um trecho da Bíblia que traz o segredo de viver em paz e harmonia.
ZÁGARI – É mesmo? Qual?
ALIEN – É o que Jesus disse em Mateus 7.12: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”. Tudo o que precisamos fazer foi pôr isso em prática. Muda tudo! Tudo!
ZÁGARI – Entendi. É, faz sentido. Apesar de que… Bem, vamos adiante. Então isso tudo aconteceu a partir dessa primeira viagem de vocês à Terra. E depois?
ALIEN – Aqueles primeiros exploradores tiveram pouquíssimo tempo para ficar aqui por conta da tecnologia disponível na época. Por isso, foram direto à fonte: a Bíblia. Só deu tempo de pegá-la e levá-la. Não tivemos como ver a aplicação dela na vida dos terráqueos. Mas, agora, alguns séculos depois, já temos a tecnologia que nos permite passar mais tempo aqui, por isso fui escolhido para vir e estudar não mais a fonte e o conteúdo do cristianismo, mas sua aplicação prática na vida de vocês. Foi o que fiz nesses anos que passei aqui na Terra.
ZÁGARI – E você pode compartilhar suas percepções?
ALIEN – Rapaz, são tantas… me ajuda, o que você gostaria de saber?
ZÁGARI – Tá, vamos lá. O que você percebeu sobre os relacionamentos humanos entre cristãos?
ALIEN – Olha… foi muito estranho. Confesso que ainda estou tentando entender algumas coisas que não me parecem fazer sentido.
ZÁGARI – Como o quê?
ALIEN – Bem, Jesus ensinou que devemos amar os outros como a nós mesmos. Mas encontrei muito pouco disso. Na parábola do bom samaritano, Jesus ensina que devemos amar os inimigos, mas os cristãos da Terra quando fazem inimigos se tornam realmente inimigos deles! Falam mal, descem o malho, são sarcásticos e depreciativos… alimentam esse tipo de postura como se fosse uma virtude. Mas isso não se encaixa no que entendemos da Bíblia. Será que entendemos errado e amar o inimigo não significa bem amar o inimigo?
ZÁGARI – Prefiro não opinar. Sou apenas o entrevistador.
ALIEN – Pois é… (silêncio). Enfim, vi muitos cristãos terráqueos que dizem seguir Jesus mas tratam quem discorda deles com uma deselegância tão grande! Atacam com agressividade, fazem chacota, ofendem… no nosso planeta não vivemos dessa maneira as diferenças pessoais. Se um crê na eleição condicional e outro na incondicional, se um é pentecostal e outro cessacionista, se um é ortodoxo e outro da missão integral… nós nos respeitamos e nos amamos, pois sabemos que ainda assim somos irmãos e pertencemos a uma mesma família, valorizando o que temos em comum e não as diferenças periféricas. Os cristãos da Terra não fazem isso, mas amam segregar, promover dissensões e facções, e vivem se agredindo. Não faz o mínimo sentido para nós isso, teremos de estudar esse fenômeno com mais calma.
ZÁGARI – Boa sorte com isso. (silêncio) Mas, diga, o que mais chamou sua atenção na Igreja brasileira?
ALIEN – (ajeitando-se na cadeira) Uma coisa que nos impressionou é um tipo de comportamento bizarro. No nosso planeta, absolutamente todos nós nos dedicamos ao estudo profundo da Bíblia. Afinal, como viver algo se não o conhecemos extremamente bem? É o óbvio! Mas não conseguimos ficar só estudando e debatendo, pois automaticamente desejamos pôr em prática o que aprendemos. Então, por exemplo, se no estudo de hoje lemos sobre “dar de comer a quem tem fome”, assim que termina o encontro saímos à rua para alimentar aqueles que estejam famintos. Ou, se hoje estudamos no seminário sobre chorar com quem chora, saímos imediatamente a campo em busca de quem esteja triste, para tentar consolá-lo. Se hoje estudamos sobre caridade, não conseguimos ir para a cama sem participar de alguma ação social que beneficie outros alienígenas. Se o tema do dia é pacificar, nos esforçamos para promover e paz em todo tipo de relação. E assim por diante.
ZÁGARI – E qual foi o comportamento bizarro que você identificou na Terra quanto a isso?
ALIEN – Rapaz, aqui a parada é louca (risos). Percebi que existe uma quantidade gigantesca de cristãos terráqueos que só ficam lendo sobre Cristo e teologia. Para eles, parece que ser cristão é só ler sobre cristianismo e ficar debatendo, debatendo, debatendo, debatendo, debatendo, debatendo e debatendo! É surreal, não faz sentido nenhum para nós esse comportamento. É gente cheia de diplomas na parede, cheia de livros nas estantes, mas que nunca foi a um orfanato levar amor, nunca saiu na noite fria para distribuir cobertores aos desabrigados, tampouco se dedica a ações práticas em benefício dos outros, não se preocupa em continuar com o mesmo temperamento explosivo e briguento que tinha antes da conversão, que trata quem discorda de si de modo repulsivo “em nome de Jesus”, claro… É como tirar carteira de motorista, ler milhões de livros sobre carros e seu funcionamento, saber as leis do trânsito de cor… mas jamais sair com o carro da garagem! Muito estranho.
ZÁGARI – (risos) Entendi a metáfora.
ALIEN – Mas, para piorar a confusão, é enorme a quantidade de terráqueos que se dizem seguidores de Cristo mas se recusam a estudar a Bíblia! Não sabem nada de teologia, não leem bons livros cristãos… odeiam uma biblioteca! Mas como pode alguém seguir algo sem conhecer esse algo a fundo? Não faz nenhum sentido para nós, alienígenas, que abraçamos um cristianismo exclusivamente e inegociavelmente bíblico. É como alguém que vai a um jogo de hóquei no gelo para torcer sem jamais ter recebido uma instrução mínima sobre as regras do jogo. Vai ficar ali… olhando… mas sem entender nada. Daqui a pouco vai estar torcendo pelo juiz! (risos)
ZÁGARI – (risos) Boa, você tem umas ótimas metáforas. O que mais?
ALIEN – (silêncio pensativo) Tem uma coisa que me deixou bem confuso. Muitos cantam músicas sobre cristianismo que contradizem o que a Bíblia diz. Muitos pregam coisas que são diferentes do que a Bíblia diz. Muitos tomam atitudes que contrariam o que a Bíblia diz.
ZÁGARI – É mesmo?
ALIEN – Sim, para você ter uma ideia, coletei até algumas amostras de uma música cantada em igrejas que diz que os anjos não podem contemplar a face de Deus. Mas a Bíblia diz que os anjos veem Deus face a face! É ou não um caso de estudo?
ZÁGARI – De fato, é incoerente. Que outras incoerências você encontrou?
ALIEN – Rapaz, se tem uma coisa estranha na igreja da Terra é o exclusivismo. No meu planeta entendemos que as denominações são apenas formas diferentes de ver a mesma coisa, mas aqui cada um acha que só a sua denominação é a certa. Encontrei pessoas que são mais presbiterianas que cristãs! Outras que acham que só na Assembleia de Deus o Espírito Santo tem liberdade de agir. Outros que consideram o jeito batista de ser o único válido. Não conseguimos entender esse conceito, me lembra aquela passagem da Bíblia em que uns dizem que são de Paulo, outros de Apolo. Vi pregações de pastores que diziam que as pessoas que amadurecessem na fé necessariamente seriam conduzidas por Deus à sua denominação. Caso de estudo.
ZÁGARI – Como entrevistador prefiro não comentar isso. Que outras incoerências você viu por aqui?
ALIEN – Deixe-me pensar. Sim, no nosso planeta, aprendemos com a Bíblia que a glória pertence só a Deus. Mas aqui vi uma quantidade inacreditável de gente se exaltando “em nome de Jesus” e, claro, escrevendo no final de seus textos “Soli Deo Gloria”. Qual é a lógica disso?
ZÁGARI – É, não tem.
ALIEN – Sobre essas incoerências, uma das maiores são cristãos que dizem coisas como “números não importam” e metem o malho em igrejas que investem no crescimento numérico. Entendo a crítica deles, qualidade vem antes da quantidade, isso é óbvio. Só que, aí, no dia seguinte, esses mesmos cristãos se gabam da quantidade de seguidores que têm nas mídias sociais ou comentam com os amigos sobre a quantidade de acessos que têm em seus blogs. No meu planeta, chamamos isso de… como é que se diz mesmo na sua língua? Hmmm… é… Aquilo que Jesus falou sobre os fariseus?
ZÁGARI – Hipocrisia?
ALIEN – Isso! Hipocrisia! Isso mesmo, obrigado, tinha esquecido essa palavra. Vocês, cristãos terráqueos, são muito estranhos. Olha, pra você ver, vamos pensar sobre os seus pastores. Vocês têm pastores, irmãos como quaisquer outros que são chamados para servir os demais. Mas muitos acham que é justamente o contrário, que ser pastor é para ser servido e bajulado, como se ser pastor fosse um cargo diplomático. Invertem tudo! Por outro lado, os membros de suas igrejas acham que o pastor tem de ser um super-humano, acima de qualquer fraqueza, que se não estiver o tempo todo bem e exultante, não serve para ser pastor. E aí os pastores acabam sendo cobrados de forma injusta e nada amorosa, sendo obrigados a carregar fardos injustos. Qual é a lógica disso? Me fala, Zágari, qual é a lógica disso?
ZÁGARI – Prefiro não comentar.
ALIEN – Eu entendo sua posição, às vezes é melhor não falar nada mesmo. É a vantagem de eu ser alienígena. (risos)
ZÁGARI – E sobre oração, o que você viu por aqui?
ALIEN – Você tocou em outro assunto interessante. Muitos cristãos terráqueos têm conceitos sobre oração que nós não conseguimos compreender.
ZÁGARI – Por exemplo?
ALIEN – Entendemos, pelo que lemos na Bíblia, que oração é uma conversa de um filho com seu Pai. Um bate-papo como este nosso aqui, em que o filho abre o coração e rasga o peito para seu Pai. Só que, primeiro, tem gente que diz ser filho de Deus mas não ora. Segundo, outros oram mas acham que orar é desfiar um rosário de pedidos a Deus, como se ele só servisse para nos dar coisas, para nos conceder bênçãos e “vitórias”. Terceiro, tem gente que considera a oração não um meio de relacionamento, mas uma espécie de bateria de celular, que precisa estar sempre sendo recarregada para que a pessoa tenha “poder”. Quarto, tem gente que acha que orar é ficar dando ordens a Deus: é um tal de “eu decreto”, “eu declaro”, “eu determino”… camarada, não entenderam nada!
ZÁGARI – Sei do que você está falando.
ALIEN – É, Zágari, sinto que o povo de meu planeta vai ter um choque quando apresentarmos as conclusões das minhas pesquisas. Em especial, no que se refere ao coração humano.
ZÁGARI – Como assim?
ALIEN – Baseamos toda a transformação de nossa sociedade na ideia de que um povo que teve a Bíblia como norteador de suas posturas por dois milênios estaria hoje extremamente evoluído. Meu parecer, portanto, será bastante decepcionante. A maioria das pessoas do planeta Terra não tem Jesus no coração e a parcela que tem frequentemente age como se não tivesse.
ZÁGARI – Mas deixe eu defender o meu pessoal um pouco, pois você está pintando um cenário meio pessimista demais (risos). Você não acha que temos dado um bom testemunho para o mundo não cristão?
ALIEN – (silêncio). Sinceramente? (silêncio). Olha, me responda você. Como os cristãos tratam um homossexual que chega a uma igreja em busca de Jesus?
ZÁGARI – Eu… ahm… prefiro não opinar.
ALIEN – (risos) Tá vendo? Me diga mais: como é o testemunho da esmagadora maioria dos parlamentares cristãos?
ZÁGARI – (…)
ALIEN – Quando surge uma polêmica entre cristãos e não cristãos, digamos, sobre assuntos como aborto, identidade de gênero, essas coisas… vocês reagem com aqueles que se opõem como Paulo disse a Timóteo ou com agressividade e ataques brutos?
ZÁGARI – Não sei do que você está falando. O que Paulo escreveu a Timóteo sobre a forma de reagir aos que se opõem?
ALIEN – Você tem uma Bíblia aí? Abra, por favor, em 2Timoteo 2.24-26. Leia, por favor.
ZÁGARI – “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade”.
ALIEN – Certo. Vamos lá: você conhece servos do Senhor que vivam a contender?
ZÁGARI – (gargalhada) Você está dizendo que um verdadeiro servo do Senhor não pode viver a contender?
ALIEN – Eu não! A Bíblia que está dizendo! E o que eu mais vejo hoje em dia são servos do Senhor contendendo. O tempo todo. É impressionante. Olhe o Facebook!
ZÁGARI – Éééé… ahn… bem…
ALIEN – Mas vamos adiante no que Paulo escreveu. Você conhece cristãos terráqueos que são brandos com todos, inclusive com os que discordam deles? Seja sincero, Zágari!
ZÁGARI – Preciso reconhecer que conheço muito poucos assim.
ALIEN – Pois é. E cristãos aptos a instruir os que se opõem?
ZÁGARI – (silêncio) Bem… na verdade… geralmente, a nossa reação aos que se opõem não é de instrução, mas de ataques.
ALIEN – Olhaí! Exatamente! Tá vendo como a parada é louca aqui no cristianismo dos terráqueos? Mas tem mais! Vocês são pacientes com os que se opõem?
ZÁGARI (risos) Rapaz, não me faça responder isso, os leitores do meu blog podem se chatear…
ALIEN – Ah, tá achando ruim? Tem mais! E sobre o que Paulo escreveu, que é preciso o servo do Senhor “disciplinar com mansidão os que se opõem”? Fala a verdade, Zágari! A apologética de vocês, cristãos terráqueos, é feita com mansidão?
ZÁGARI – Cara, não me faz responder isso…
ALIEN – (risos) Tá, respondo eu. Vocês, em geral, são brutos na sua apologética. Verdadeiros neanderthais, tascando a clava na cabeça de quem se opõe ao que vocês acreditam. Vocês não aprenderam a disciplinar com mansidão os que se opõem, acham que Deus se agrada de ficarem em cruzadas internéticas contra os que se opõem.
ZÁGARI – Mas, Alien, você precisa compreender que estamos falando de defesa da fé. Não dá pra ser brando quando os filhos da ira se opõem ao evangelho e…
ALIEN – Então você está dizendo que para defender a fé bíblica podemos fazer o contrário do que a Bíblia diz?
ZÁGARI – Ahm… ééé… não, olha só… é que…
ALIEN – Não tem mas, Zágari. A Bíblia diz ou não diz que devemos disciplinar com mansidão os que se opõem?
ZÁGARI – Sim, mas…
ALIEN – Mas?
ZÁGARI – Deixa pra lá. (pausa, pensativo) Eu entendo que você precisa estudar coisas que não entende, mas… deixa pra lá.
ALIEN – Pois é, meu amigo, é tanto material de estudo que estou levando que minha nave está com excesso de peso. Talvez tenha de deixar por aqui uma parte da carga. Sei lá, talvez alguns dos contêineres sobre a teologia da prosperidade ou algumas das caixas sobre cristãos que acham que podem ser cristãos e arrogantes e petulantes ao mesmo tempo.
ZÁGARI – Não faça isso. São assuntos que precisam ser estudados. Quem sabe vocês não encontram a cura para esses males e na sua volta à Terra possa nos trazer algumas orientações.
ALIEN – É… é o que espero, conseguir compreender essas coisas para contribuir com o cristianismo esquisito de vocês, terráqueos. (olha o relógio) Zágari, está chegando a hora da partida da minha nave. Vai demorar muito ainda?
ZÁGARI – Não, sejamos breves e vamos tentar resumir. De modo geral, qual é sua percepção geral sobre a prática do cristianismo na Terra?
ALIEN – Em poucas palavras, o que mais exigirá esforço dos nossos cientistas é tentar decifrar essa contradição entre a teoria da Bíblia e a prática dos cristãos terráqueos. No nosso planeta, fazemos o que a Bíblia diz. Aqui, parece que milhões de pessoas acreditam no que está na Bíblia… mas não vivem na prática o que ela diz.
ZÁGARI – É uma conclusão desanimadora. Mas essa foi uma percepção geral, então?
ALIEN – Não, de modo algum. Não quero generalizar. Vi bolsões que lembram demais o meu planeta. Grupos que se dedicam à caridade, à recuperação de doentes de alma, ao amor abnegado e gratuito. Gente que vai fazer missões no sertão e em regiões paupérrimas, sem ficar fazendo publicidade disso. Cristãos que estudam teologia e vivem na prática a piedade que essa teologia ensina. Vi muitos que amam Cristo sem buscar a fama ou o lucro por meio da fé, que preferem não aparecer, que fazem palestras em congressos teológicos para de fato conduzir pessoas a Cristo e não para alimentar seu ego e mostrar como eles são os tais da teologia. Conheço pessoas em igrejinhas pequenas que trabalham na obra de Deus por puro amor, sem querer nada para si. Em suma, vi verdade, amor e graça. Vi piedade com contentamento. Infelizmente, são bolsões e não regra geral.
ZÁGARI – Olha, eu espero que você esteja errado nessas conclusões. Espero mesmo. (silêncio) Bem, querido, que Deus o abençoe em seu retorno para casa. É bom saber que temos irmãos em Cristo mesmo em outro planeta.
ALIEN – Não, Zágari, não confunda as coisas! Nós praticamos as boas obras da fé, mas não temos direito à salvação. Não somos seus irmãos em Cristo. Jesus não morreu por nós. Nós nos apaixonamos pela ética cristã, pela moral do evangelho, pois as atitudes que vocês chamam de “atos de santidade” são a melhor forma de viver. Nosso cristianismo é meramente intelectual. Seguir a ética cristã gera harmonia, paz e uma vida extraordinária. Porém, não receberemos a salvação, que é exclusiva para os humanos.
ZÁGARI – Que triste, meu amigo…
ALIEN – Pois é. O que me entristece mais ainda é saber que muitos terráqueos estão na mesma situação que nós. Praticam a ética cristã mas não têm compromisso espiritual com Cristo, e, por isso, não serão salvos. Vivem uma vida religiosa, imersos em todo um contexto cristão, com forma de falar cristã, discussão diária de temas cristãos, rotinas cristãs… mas sem Cristo no coração. Não mudaram nada, seguem sendo gente esnobe, irada, agressiva, desagradável. Não percebem que as obras sem a fé demonstrada por obras é morta.
ZÁGARI – Como é? As obras sem…?
ALIEN – As obras sem a fé demonstrada por obras é morta. Isso significa que não adianta se chamar cristão, cumprir os mandamentos cristãos, frequentar cultos cristãos, participar de debates cristãos, escrever um blog cristão, escrever ou ler mil livros cristãos por semana… mas não ter uma aliança espiritual íntima com Jesus. Isso é religiosidade vazia. É farisaísmo. E não leva ninguém a lugar nenhum.
ZÁGARI – Entendi. E…
ALIEN – (levantando-se com pressa) Rapaz! Minha nave está saindo, preciso correr! Zágari, valeu pelo papo, mas tenho de correr! Grande abraço, meu amigo, Deus o abençoe!
Antes que o Alien subisse as escadas de sua nave, gritei de longe:
ZÁGARI – Alien! Deixe uma mensagem para os leitores do blog APENAS que os ajude a viver um cristianismo cada vez mais autêntico!
De longe, ele gritou:
ALIEN – Meu amigo, se eles não vivem o cristianismo autêntico tendo a Bíblia em mãos, não será um homenzinho verde vindo de outro planeta que os fará…
E a porta da nave se fechou.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari