Meditações
Intolerância religiosa: como seria minha redação no ENEM
Há diferentes fatores que levam os Cristãos evangélicos a serem alvo da Intolerância Religiosa.
Alguns amigos me interpelaram pelas redes sociais sobre minha opinião acerca do tema da redação do último ENEM: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Na minha época de escola, sempre amei escrever redações; por isso, em vez de opinar, resolvi voltar ao passado e escrever o que teria sido a minha redação, caso eu fosse um dos estudantes que tiveram de fazer o exame. Eis o que penso sobre o tema:
“A intolerância religiosa no Brasil é um câncer. E, como todo câncer, deveria ser extirpado. Intolerância é fruto essencialmente da desinformação e surge quando não entendemos direito a nossa religião e/ou a religião dos outros. Se somarmos à religião desinformada a ideia de que diferenças precisam ser combatidas com agressividade ou ira, o resultado será explosivo e sanguinário, como a História nos mostra muito bem.
Sou cristão, da tradição reformada (normalmente, somos conhecidos como “protestantes” ou “evangélicos”). Como tal, tenho uma fé sólida e alicerçada em valores apresentados na Bíblia, o livro sagrado da cristandade. Há quem não acredite no que ali está escrito, e isso precisa ser respeitado; mas eu acredito – e isso também precisa ser respeitado. Acredito no que está exposto em suas páginas e procuro seguir os princípios, a ética, a moral e os ditames do cristianismo. Isso faz de mim um indivíduo que tem convicções. Em outras palavras, tenho conceitos – e não preconceitos. Minha fé está alicerçada no chão firme dos conceitos e não na areia movediça dos preconceitos.
Dentro dessa realidade, sinto na pele a intolerância. Ser cristão evangélico do Brasil de hoje é ser rotulado de “ignorante”, “medieval”, “homofóbico”, “retrógrado” e outros adjetivos nada simpáticos. Além disso, é frequente sermos acusados de “otários que dão dinheiro para pastor” e elogios parecidos. Some a isso as estatísticas que mostram que os cristãos são o grupo humano que mais é assassinado por ano no planeta em decorrência de sua fé e o quadro da intolerância está completo.
Acredito que há diferentes fatores que nos levam a ser alvo da intolerância religiosa. Primeiro, o indivíduo não evangélico em geral tem uma ideia caricata e bem equivocada do que seja um evangélico. O não protestante costuma pegar estereótipos e exemplos nada louváveis que estão expostos na mídia e acreditam que todo evangélico é aquilo. Crê que todo evangélico lida com dinheiro como Edir Macedo, faz política como Marco Feliciano e trata o próximo com a agressividade de Silas Malafaia, sem saber nem mesmo que enorme parte dos evangélicos rejeitam fortemente tais figuras e repudia com veemência tais procedimentos.
A intolerância contra os evangélicos vem, ainda, da ignorância sobre princípios basilares da vida de um evangélico de verdade, como graça, amor, paz e justiça. O cristão que realmente conhece o Cristo não está preocupado em ficar brigando com gays ou chutando imagens de santos católicos – isso são atitudes lamentáveis de extremistas que não entendem nada de Cristo. Esses extremistas são, portanto, pessoas desinformadas acerca da própria religião e de modo algum representam os quase 40 milhões de evangélicos brasileiros. É daí que nasce a intolerância de pessoas que se dizem evangélicas mas não agem segundo o evangelho de Jesus.
Um evangélico que segue o Cristo não é nada intolerante, pois sabe que não cabe ao homem intolerar quem age em desacordo com a vontade de Deus. O cristão de verdade tolera, por exemplo, o gay, pois sabe que cada um dará contas de seus atos exclusivamente a Deus e não a nenhum homem – portanto, o estilo de vida do homossexual é responsabilidade dele e, se a prática gay configura transgressão à lei divina, isso é uma questão a ser resolvida entre o gay e Deus. Da mesma forma, pessoas de outras religiões não têm de ser ofendidas ou atacadas pelos evangélicos. Se os kardecistas, umbandistas, católicos, islâmicos, budistas ou ateus praticam uma religião que não está de acordo com o que o cristianismo reformado crê, isso é um problema entre eles e Deus. Não cabe ao evangélico julgar, ofender ou atacar. A decisão de fé de cada um deve ser resolvida entre cada um e Deus. A nós, evangélicos, cabe tolerar e proclamar o evangelho com mansidão, paciência e graça.
E, afinal, quais são a postura e o comportamento corretos do evangélico que sai das trevas do ódio e da desinformação acerca do evangelho de Jesus? Conhecer de fato a Bíblia leva o evangélico a:
1) Proclamar com mansidão e amor aquilo que crê ser a verdade,
2) respeitar gentilmente quem discorda de si,
3) tolerar com paciência quem age em desacordo com o que crê e, acima de tudo,
4) amar cada pessoa que não segue o que os evangélicos seguem.
Amamos os diferentes porque foi o que Jesus nos ensinou. Toleramos os diferentes porque não cabe a nós mudar ninguém, só o Espírito Santo convence do pecado, da justiça e do juízo. Respeitamos os diferentes porque é o certo e porque também queremos ser respeitados. Proclamamos para os diferentes as boas-novas de Jesus porque foi o que Jesus nos orientou a fazer.
Em suma, o evangélico bem informado acerca do evangelho de Cristo não é intolerante. É um ser amoroso, que convive carinhosamente com gays, bate papo respeitosamente com pessoas de outras religiões e, em tudo isso, os ama. Ama a todos. Discorda, mas ama. Pois o maior mandamento do cristianismo se resume a amar a Deus e ao próximo e “o próximo” são pessoas que discordam de nós, como claramente nos ensina a parábola do bom samaritano.
Por outro lado, os evangélicos são vítimas de uma intolerância atroz, em geral promovida por quem não aceita os valores do cristianismo reformado ou não compreende o que é o cristianismo reformado. São pessoas que generalizam, caracaturizam e, desinformadas, nos atacam, desprezam e segregam.
Em tudo isso, uma única conclusão: a intolerância religiosa no Brasil tem de acabar. Os evangélicos intolerantes com quem é diferente precisam se informar melhor sobre o que a Bíblia fala sobre o trato com o diferente: “O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente. Instrua com mansidão aqueles que se opõem, na esperança de que Deus os leve ao arrependimento e, assim, conheçam a verdade. Então voltarão ao perfeito juízo e escaparão da armadilha do diabo, que os prendeu para fazerem o que ele quer” (2Tm 2.24-26). Já o não evangélico intolerante precisa se informar melhor sobre o que é de verdade o cristianismo evangélico, para que compreenda que não somos todos caricaturas de Edir Macedos e Silas Malafaias da vida; somos pessoas honestas, justas, amorosas, respeitosas e gentis. Assim, acredito que a tolerância vira pela informação. Se nos abrirmos para adquirir o conhecimento e superar a ignorância resultante da desinformação, viveremos em paz, harmonia e com total civilidade.”
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari