Meditações
Lições que aprendi com o ladrão de minha bicicleta
Deus é apaixonante. A cada nova experiência que tenho, mais me assombro com a sabedoria do Senhor e a forma como ele age conosco. Confesso que me encanto com o modo de Deus fazer as coisas, mesmo que não seja a forma que gostaríamos. Na última quinta-feira, o Senhor me permitiu passar por algo difícil, mas extraordinário: um assalto. Só percebi a beleza espiritual desse episódio tendo passado mais de um dia do ocorrido. E como sei que “O SENHOR faz tudo com um propósito” (Pv 16.4), tenho a pretensão de supor que Deus permitiu que eu fosse roubado para, entre outras coisas, me dizer: “Escrever é fácil, quero ver se você vive o que escreve”. Vou explicar.
Depois do meu horário de trabalho, saí para pegar minha filha na escola de bicicleta, como fazia regularmente. Ela tem 4 anos, por isso comprei uma daquelas cadeiras que se acoplam na parte traseira e a levo e trago na garupa. É prático, rápido e divertido. De vez em quando, paramos em um lugar que fica na metade do caminho para fazer um lanche. Há um bicicletário na rua, bem na porta da lanchonete. Como de costume, estacionei, prendi a bicicleta, tirei minha filha e fomos comer. A surpresa desagradável nos esperava na saída. Não quero entrar em detalhes, por razões pessoais, mas basta dizer que na hora em que fomos partir perdemos a bicicleta. Fomos assaltados. Não nos machucamos, mas foi um susto bem desagradável, que deixou minha filha bastante impressionada.
Para minha grande surpresa, minha reação foi de serenidade. Sempre imaginei que, se algo assim acontecesse comigo, eu teria uma crise nervosa, mas, surpreendentemente, fiquei calmo e tranquilo, falei em voz baixa e fiz gestos lentos e controlados. Voltei com minha filha para o interior da lanchonete e procurei um funcionário responsável, porque me dei conta de que havia uma câmera na porta que poderia ajudar a identificar o ladrão. Expliquei a ele o que aconteceu e na mesma hora o rapaz, chamado Bruno, foi verificar as imagens para ver se havia registro.
Enquanto o esperava, sentei com minha filha em uma das mesas para aguardar e começamos a conversar sobre o que aconteceu. Ela estava muito confusa, porque sempre lhe ensinei que pegar as coisas dos outros sem pedir é errado, e ela me perguntava, vez após vez, por que aquele rapaz tinha feito aquilo. Percebi também que ela estava tensa, pois se agarrou em mim e não queria desgrudar. Disse que estava triste, porque gostava muito da nossa bicicleta, e começou a fazer um monte de perguntas sobre o ladrão, se ele era mau, por que não era amigo de Jesus, se ia para a prisão e outras coisas. Naquele momento, calmamente a sentei no meu colo e expliquei o máximo que eu pude. Mas, em determinado momento, simplesmente virei-me para ela e disse:
– Bebê, vamos orar e falar com Papai do Céu?
Ela concordou, nos abraçamos e eu comecei a orar baixinho. Sem que nem tivesse pensado nisso, a primeira coisa que dissemos ao Senhor foi que perdoasse o ladrão, que ele viesse a se arrepender e se tornasse amigo de Jesus. Em nenhum momento oramos pedindo juízo ou coisa parecida. Pelo contrário: pedimos a Deus que o perdoasse. Em seguida, comentei com o Senhor que não entendia por que ele tinha permitido aquilo, mas que eu tinha certeza de que havia uma boa razão, um propósito por trás daquele sofrimento, daquela perda.
Terminamos de orar e dentro de mais algum tempo Bruno voltou e disse que, infelizmente, o enquadramento da câmera não tinha conseguido filmar a ação do ladrão. Agradeci e saímos calmamente, caminhando a pé pela rua. No trajeto, minha filha continuou fazendo perguntas sobre o que tinha acontecido. Percebi que aquilo que dissemos na oração teve um efeito sobre ela, que começou a me dirigir muitos questionamentos sobre perdão e sobre por que Jesus deixa que coisas ruins aconteçam com aqueles que são amigos dele.
Mais de um dia depois do ocorrido, eu estava pensando sobre o que aconteceu. Eu refletia sobre por que a primeira coisa que pedimos a Deus na oração, no impulso, foi que perdoasse o ladrão. Confesso que eu gostaria muito que ele fosse preso e que a bicicleta de que minha filha tanto gosta fosse recuperada. Mas não foi isso o que pedi a Deus naquele momento: pedi que o perdoasse. Também me dei conta de que conversamos com o Senhor sobre os propósitos de tudo aquilo que aconteceu. Foi quando, de repente, me dei conta de que tinha posto em prática aquilo que escrevi nos meus últimos dois livros publicados e que venho pregando em muitas igrejas, quando me pedem que eu pregue sobre o tema do Perdão Total e do O fim do sofrimento. Consegui pôr em prática o perdão. E consegui não murmurar pelo que aconteceu, por saber que Deus é bom apesar de permitir que coisas ruins aconteçam o seus filhos por seus misteriosos propósitos.
Preciso reconhecer que fiquei maravilhado, porque percebi que aquilo que escrevi e sobre o que eventualmente prego é mais do que palavras em páginas de papel ou ditas de um púlpito: é vida. Vida prática, vida cotidiana. Em outras palavras: a Bíblia funciona.
Este é o ponto aonde quero chegar ao te contar tudo isso: meu irmão, minha irmã, nós lemos e relemos a Bíblia, ouvimos pregações, dizemos amém e concordamos com as verdades do evangelho, mas a realidade é que, com muita frequência, quando chega a hora de pôr em prática aquilo em que acreditamos… é como se não acreditássemos de fato. Sabemos que não devemos devolver mal com o mal mas, na hora “h”, reagimos com fúria. Sabemos que não devemos falar de forma torpe, mas nossa língua parece ser incontrolável. Sabemos que devemos ser pacificadores, mas é só até o momento em que falamos de política ou futebol. Sabemos que o nosso Redentor vive e que um dia se levantará sobre a terra, mas com frequência agimos como se ele fosse apenas um personagem de contos literários e nossa fé se desmancha no vento.
A Bíblia é eficaz. A palavra de Deus é verdadeira. E aquilo que ela afirma se cumpre. Nunca diga que você não consegue pôr em prática o que ela determina, porque você consegue, sim. Eu percebi isso por causa daquele assalto. Se eu consegui, você consegue, pois não sou em nada melhor do que ninguém. Ao ver na televisão, recentemente, imagens de arrastões na praia de Copacabana e bandidos arrancando bicicletas das mãos de pessoas no meio da rua, minha reação imediata foi me irar contra os ladrões. Cheguei a ter pensamentos bem ruins e muito pouco cristãos. Quando vi imagens de pessoas agarrando e arrancando bandidos de dentro de ônibus, no fundo, no fundo achei aquilo bom. Confesso vergonhosamente que minha humanidade gritou naquele momento por justiça humana. Mas, poucos dias depois, quando eu é que fui o alvo da maldade, instintivamente – ou, o que é mais certo, pela ação do Espírito Santo -, perdoei.
E, acredite, quando pedi a Deus que perdoasse aquele ladrão, desejei aquilo de todo o coração e não da boca para fora. Sei que parece estranho e pode até soar como falsa piedade, mas a pura verdade é que, naquele momento, o que eu senti por aquele homem foi pena, pois eu sei o que o espera no futuro caso não se converta dos seus maus caminhos. Analisando com calma, percebo que tive compaixão daquele homem que me fez mal, porque eu perdi apenas uma bicicleta, enquanto ele está a ponto de perder a alma.
Não gostei do susto que minha filha levou, me machucou. Mas sei que Deus tem um propósito naquilo, que eu ainda não entendo. E deposito minha total confiança no Senhor e sei que ele cuida de mim e dela, assim como cuida de você e tem um propósito para tudo de ruim que lhe acontece. Deus é Deus e Deus é bom. E sua Palavra é verdadeira e se cumpre. Viva com todo o seu fôlego a verdade do evangelho e realidades extraordinárias se descortinarão diante de seus olhos.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari