Meditações

Minha casa, minhas regras!

Por Maurício Zágari

Minha casa é minha. Eu a comprei com meu dinheiro, ganho com o suor do meu trabalho. Meu nome está na escritura e ela me pertence. Tenho o direito de trazer para dentro dela tudo o que eu bem entender, tudo o que eu quiser comprar no supermercado, os móveis da minha escolha, as roupas que eu decidir adquirir, até mesmo um cachorro, um gato, um camelo ou uma jararaca, se eu quiser. É meu direito. A casa é minha. E minha casa, minhas regras. Isto mesmo: como a casa é minha, as regras do que faço dentro dela sou eu que estabeleço. Tenho total liberdade de andar nu pelos cômodos, se desejar, de vestir um casaco pesado no verão ou mesmo de andar para lá e para cá com um chapéu de Carmen Miranda. Isso pode parecer maluquice, mas não me importa, já que as regras na minha casa sou eu que faço.

Se eu quiser, posso pegar uma máquina de fumaça e encher os quartos com fumaça  fedorenta, nada me impede de fazer isso. Posso, também, pegar sacos cheios de lixo e espalhar todo o conteúdo pelo chão, da cozinha ao banheiro, no quintal e na área de serviço. A casa é minha. E minha casa, minhas regras. Posso também entupir toda a tubulação com gordura e encher os ralos de sujeira. Tenho o direito de pintar as paredes de preto e o teto de rosa choque, se assim tiver vontade. E mais: se me der na telha, posso pichar a fachada, pendurar enfeites esquisitos nas janelas, decorar as portas com qualquer tipo de penduricalho, derrubar muros e fazer obras. Tenho esse direito. Quem manda na minha casa sou eu. A casa é minha. E minha casa, minhas regras. 

Como sou o dono dela, posso te trazer para morar por um tempo na minha casa, mesmo que você não tenha pedido. Mas atenção: uma vez que esteja dentro dela, eu tenho o direito de fazer o que quiser com você. Afinal, é a minha casa, e na minha casa o que vale são as minhas regras. Então, uma vez que eu tenha posto seu corpo dentro dela, mesmo que você não tenha me pedido para entrar, tenho total liberdade de fazer o que bem entender com ele. Principalmente porque, uma vez dentro da minha casa, você vai se alimentar da comida que eu te der, vai respirar o ar que chegar a você através do espaço que me pertence, vai beber da água que eu providenciar, vai se aquecer com o calor que minhas paredes te proporcionarem, vai sobreviver com os recursos que a minha casa te fornecer. Portanto, não tem discussão: pelo fato de você estar dentro da minha casa, o que vale são as minhas regras e seu corpo me pertence. Em outras palavras, você me pertence. Logo, sua vida me pertence. Pois a casa é minha. E minha casa, minhas regras. 

Aliás, fique sabendo: uma vez dentro da minha casa, tenho total direito de te matar. Isso mesmo: já que você está dentro de minha propriedade e vivendo a partir dos recursos que eu te proporciono, eu posso te assassinar, se isso atender aos meus interesses. E não adianta protestar. A casa é minha. E minha casa, minhas regras.  Já sei. Você vai alegar que não tenho esse direito e começar a me dar argumentos: vai dizer que seu corpo não faz parte da minha casa, que seu código genético é diferente daquilo que forma minha casa, vai tentar sobreviver afirmando que está habitando em minha casa só por um tempo e em breve sairá dela, vai alegar que seu direito à vida é maior que meu direito de propriedade sobre minha casa, blá-blá-blá. Desculpe, não estou interessado em saber de nenhum argumento. Eu sei que você não é minha casa,  que seu corpo é uma entidade totalmente à parte das paredes e do teto que me pertencem, que está nela apenas por algum tempo e depois vai embora, que você tem tanto direito de viver quanto eu tenho de possuir minha casa… eu sei de tudo isso. Mas, quer saber? Nada importa: a casa é minha. E minha casa, minhas regras.

E eu quero te matar.

Eu quero te matar porque me é mais conveniente. Porque isso será melhor para mim. Porque atende aos meus interesses.  Porque sua presença na minha vida me atrapalha. Por um monte de razões. Não me importa que você seja apenas um hóspede temporário, que não faça parte da minha casa, que esteja desfrutando dos recursos que ela te oferece só por algum tempo, que eu é que seja a responsável por você estar dentro dela ou mesmo que você tenha direito à vida, já que seu corpo não é propriedade minha. Não quero saber. Matar você será melhor para mim. A casa é minha. E minha casa, minhas regras. 

É isso o que eu tinha a te dizer, filhinho. Agora prepare-se para morrer, porque a mamãe vai te matar. Afinal, eu te pus – sem que você pedisse – dentro da minha casa, que é o meu corpo, e isso obviamente me dá total direito de exterminar a sua vida. Sim, seu corpo é seu. Mas meu corpo é meu. E meu corpo, minhas regras. E isso… faz todo sentido. Ou não?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari

Últimos artigos

Meditações

Tu me amas?

O amor, demonstrado por Cristo, que gera arrependimento. O amor que soluciona nossos problemas.