Meditações
Por que, Deus, por quê?!
Muitas vezes questionamos a Deus o porquê de tal situação, e esquecemos que sua vontade é sempre boa perfeita e agradável.
Atire a primeira pedra quem nunca se pegou com Deus, tentando entender por que está vivendo uma situação ruim. Esta realidade é constante na vida do cristão: temos fé, confiamos em Deus, sabemos que sua vontade é perfeita e boa, mas, quando chegam os vales da vida, nos pomos a questionar: “Por que, Deus?!”. Comigo aconteceu isso semana passada, o que me levou a refletir bastante sobre as coisas ruins da vida e a soberania divina sobre elas.
Se você acompanha o APENAS, sabe que meu pai faleceu há pouco mais de três meses. Deu entrada em um pronto-socorro da Unimed e, à meia-noite, foi transferido de ambulância para o CTI do Hospital Espanhol, no Rio. E foi lá que faleceu, em 22 de janeiro. Os barulhos e cheiros daquele CTI ficaram gravados em minha mente como uma lembrança ruim. Não gostaria de nunca mais voltar àquele lugar, ouvir aqueles ruídos e sentir aqueles odores. E, após a partida de papai, não voltei a ter contato com nada daquilo. Até que…
Em 1 de maio, minha mãe levou um tombo na rua. Bateu com a cabeça no chão. Eu estava com ela e foi bem assustador quando ela sentou-se no chão sem lembrar de nada, baratinada e com metade do rosto inchado e ensanguentado. Não pensei duas vezes e corri para o pronto-socorro. Detalhe: o mesmo onde meu pai ficou, em razão das limitações do plano de saúde. Minha mãe foi admitida e a puseram exatamente no mesmo leito em que meu pai ficara. Mesmo lugar, mesmos barulhos. Uma tomografia acusou sangramento intracraniano e a necessidade de transferência para o CTI de um hospital.
Tive de realizar o mesmo procedimento burocrático que realizara com meu pai, falar com o mesmo homem do plano, sofrer a mesma espera por transferência e ouvir a mesma resposta: minha mãe seria transferida para o CTI do Hospital Espanhol, o mesmo local em que papai faleceu. A mesma ambulância chegou, na mesma hora, e minha mãe entrou no hospital na mesma meia-noite que meu pai entrara. Tive de falar com o mesmo recepcionista, preencher os mesmos formulários e receber as mesmas instruções. Ao fim, subi para ver minha mãe, no mesmo CTI, com os mesmos barulhos e aquele mesmo e inconfundível cheiro que eu esperava nunca mais sentir. Daquele momento até o retorno de minha mãe para casa, quatro dias depois, tive de viver a mesma rotina de quando meu pai estava naquele mesmo lugar, seguindo os mesmos horários de visita, telefonando para o mesmo número da mesma assistente social para receber notícias, sentando-me na mesma sala de espera onde recebi do médico a notícia da morte de papai.
Em resumo, vivi um enorme e doloroso déjà vu, aquela sensação de estar revendo uma situação que você tem a impressão de já ter vivido. E toda essa experiência me fez ter conversas sérias com Deus: “Por que preciso passar por tudo isso novamente? Por que sentir o mesmo cheiro sofrido, ouvir o mesmo barulho desagradável de aparelhos? Por que o Senhor me fez reviver toda uma situação horrível como essa, apenas três meses depois?”.
Sabe o que Deus me respondeu? Nada. Absolutamente nada.
Não sei a razão de ter passado por tudo isso novamente, de forma tão assustadoramente semelhante ao processo da morte de papai. Não entendo o motivo de Deus ter me colocado no mesmíssimo vale e me feito sentir as mesmas dores. Não encontrei respostas. Não tive grandes revelações. Nenhuma lição transformadora. Nenhuma moral da história. Fato é que toda essa dolorosa experiência não me fez ter nenhuma percepção espiritual relevante que eu possa compartilhar com meus irmãos e minhas irmãs aqui no blog. Simplesmente vivi o sofrimento e Deus não me esclareceu absolutamente nada. E isso, sim, nos tem algo a ensinar.
A realidade, meu irmão, minha irmã, é que eu e você muitas vezes ao longo da jornada da vida passaremos por situações como a que passei: dor e aflição, sem resposta ou explicação divina. O sofrimento não parecerá fazer sentido. Aparentemente, nada de bom advirá do choro. Serão situações tristes, angustiosas e enigmáticas. A questão é: o que fazer nessas horas? Quando perguntamos a Deus a razão da aflição é nada nos é explicado, como devemos nos posicionar?
Primeiro, devemos lembrar que, mesmo estando tudo misteriosamente mal em nossa vida, Deus continua sendo Deus. Ele segue sendo bom, amigo, socorro presente, maravilhoso, gracioso, salvador, amor. Como disse Jó ao reconhecer essa realidade em meio a seu sofrimento, “eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
Segundo, não podemos nos esquecer de que nada é em vão. Deus não deixa nossa vida correr ao sabor da maré, mas mantém a rédea curta. Seu controle é total e ele não abdica disso. Deus é soberano. Como reconheceu Jó, no ápice de seu sofrimento, “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21).
Terceiro, é sempre importante lembrar que Deus não nos deve satisfações. Em sua soberania, ele pode fazer o que quiser e permitir que nos sobrevenha a tragédia que for, sem ter de nos dar explicação alguma. Viciados que somos em sempre ter a resposta a tudo, como participantes da geração Google, é difícil para nós enfrentar dificuldades sem saber o porquê. Porém, a realidade é que Deus está interessado no resultado que a situação má produzirá em nós e não em ficar nos explicando seus motivos. Deus está em silêncio? Paciência, ele tem esse direito. Quando Jó questionou Deus acerca de sua desgraça, ouviu do Senhor uma longa reprimenda, pondo-o em seu devido lugar. “Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argúi a Deus que responda” (Jó 40.2).
Quarto, o fato de não termos as respostas para as tragédias da vida não quer dizer de modo algum que Deus nos abandonou e nos deixou sós. Jesus afirmou categoricamente: “eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Das duas, uma: ou Jesus mentiu ou ele está conosco diariamente, sem tirar férias, sem nos virar as costas, jamais. Não sentir sua presença ou estar vivendo momentos ruins não significa de modo algum que ele nos desprezou ou abandonou à própria sorte. Não. Ele está presente. Ele testemunha nosso sofrimento. Ele sabe o que faz.
Meu irmão, minha irmã, a angústia é grande? O choro é frequente? A dor persiste? E, para piorar, parece não haver um porquê? Saiba com toda e absoluta certeza que os olhos de Deus repousam sobre a sua vida. Ele tem seus motivos, mesmo que não os compreendamos. O silêncio dele tem razões, nós é que as desconhecemos. Nada parece fazer sentido? Então lembre-se de que “os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55.8-9). Você crê nisso? Então entrega o seu caminho aos cuidados silenciosos do Deus de amor, confia nele e tenha a mais absoluta certeza de que, mesmo sem haver um motivo claro, o mais ele fará.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari