Meditações

A mentira que não pode nos vencer

Por Maurício Zágari

Devemos derrotar a preguiça presente na nossa geração de buscar conhecimento. Não devemos nos importar com o tamanho do texto, mas sim com a qualidade das reflexões trazidas.

“Zágari, acho muito legal a sua nova iniciativa de gravar vídeos sobre vida cristã, mas não tenho paciência de ver porque eles são muito longos. Poxa, faz uns videozinhos menores, vai!”. Esse comentário me foi enviado por inbox por uma irmã querida e se refere à minha recente iniciativa de postar no YouTube vídeos com reflexões sobre vida cristã, num canal que chamei de Homileo. Quando li o comentário dela, fiquei pensativo e preocupado e cheguei à conclusão de que ele carrega profundas e graves implicações espirituais. Gostaria de compartilhar com você esses meus pensamentos (com a devida autorização prévia da autora do comentário acima, para não constrangê-la com esta postagem).

Quando criei o blog APENAS, adotei propositadamente a seguinte filosofia nos meus textos: transmitir teologia cristã de maneira totalmente compreensível, em linguagem acessível, em textos gostosos de ler, de forma que ficasse fácil para qualquer pessoa aplicar tais conceitos na prática do dia a dia. Essa filosofia tem norteado todos os meus textos. Assim que criei o blog, ainda lá em 2011, um conhecido meu, blogueiro experiente, me recomendou: “Faça as postagens com no máximo três parágrafos, senão as pessoas não lerão”. No início, eu tentei. Mas logo descobri que sou totalmente incompetente para desenvolver um raciocínio com começo, meio e fim, que seja minimamente útil para o leitor, em textos tão minúsculos. Confesso minha incapacidade. Admiro quem consegue fazer isso, mas eu não consigo. Optei, então, por investir na qualidade dos textos, tivessem que tamanho tivessem, sem me preocupar em escrever pouco a fim de acumular mais e mais leitores. Foi quando orei a Deus e lhe disse:

– Senhor, sou incapaz de escrever reflexões minimamente decentes em apenas três parágrafos. Então, que o Senhor faça cada texto chegar a quem for preciso pelo teu poder e não por estratégias humanas.

Com essa decisão, mantive meus textos do tamanho necessário, isto é, com uma média de 8 parágrafos, às vezes menos, às vezes mais. O que me espantou foi a frequência com que comecei a ler nas redes sociais irmãos e irmãs comentarem, ao compartilhar minhas reflexões do APENAS com seus amigos e “seguidores”, coisas do tipo: “Apesar de esse texto ser muito longo, vale a pena ler” ou “Senta que lá vem textão, mas leia até o fim”. Isso me chocou. Oito parágrafos são textão?

O problema tornou-se mais visível quando, há quatro semanas, passei a gravar os vídeos do HOMILEO. Uma colega, que trabalha com internet, recomendou: “Faça vídeos com no máximo três minutos, senão as pessoas não assistirão”. No começo, eu tentei. Garanto que me esforcei demais para isso. Mas passei a perceber que também sou absolutamente incapaz de desenvolver um raciocínio minimamente útil em tão pouco tempo: ou eu investia em tempo curto, a fim de arrebanhar mais inscritos em meu recém-criado canal do YouTube, ou investia na qualidade do conteúdo. Preferi investir na qualidade e não na quantidade, mesmo que isso não gere muitos inscritos no canal (afinal, o objetivo não é me fazer popular, mas edificar e abençoar vidas, a despeito de quantas forem). Resultado: minhas reflexões no YouTube têm uma média de “gigantescos” 5 a 6 minutos. Foi quando recebi o comentário de minha amiga pelo inbox, que reproduzi no início deste post.

Confesso, meu irmão, minha irmã, que estou preocupado com as graves implicações que essa cultura do “textão” tem sobre nossa espiritualidade. Explico: como uma pessoa que considera “textão” um textinho de 8 parágrafos terá capacidade de manter uma rotina de leitura e estudo da Bíblia? Como um cristão para quem ler mais de três parágrafos é enfadonho conseguirá ler diariamente bons e necessários livros cristãos, uma disciplina fundamental e indispensável para nossa espiritualidade? Se a Igreja de Cristo se acostumar à mentira de que textos que exigem mais de dois minutos de leitura são gigantescos, como poderá crescer e amadurecer em seus conhecimentos bíblicos e teológicos? Ou nos conformaremos com a mediocridade de textos minúsculos, superficiais e rasos?

Eu me recuso a acreditar que as pessoas são medíocres. Sempre vejo muito potencial em cada uma. A mentira de que 8 parágrafos é “textão”, inventada pela geração internet que tem preguiça de se concentrar em leituras proveitosas, não pode nos vencer. Não pode vencer nossa vontade de crescer. Não pode derrotar o plano divino de que seus filhos e filhas cresçam sempre mais nos âmbitos intelectual, emocional e espiritual. Pois uma Igreja que não lê algo que vá além de três parágrafos está condenada à estagnação, à pobreza, à superficialidade e ao erro.

Vamos além: como pessoas que não têm paciência de assistir a um vídeo com 5 ou 6 minutos de duração conseguirão manter a atenção necessária durante uma pregação de 40 minutos? É por essa razão, para conseguir prender a atenção de fieis cada vez mais incapazes de se concentrar, que muitas igrejas transformaram seus cultos em shows e seus pregadores em piadistas ou entretenedores. E mais: como pessoas sem paciência de assistir a um vídeo de 6 minutos conseguirão se concentrar em seus momentos de oração e meditação diárias, se sua mente não consegue ficar mais que 3 minutos atenta a algo sem se entediar? Não seria por isso que as reuniões de oração das igrejas vivem vazias? Estamos falando de um problema demasiadamente grave.

Como você pode ver, meu irmão, minha irmã, essa não é uma questão qualquer. É um fenômeno extremamente sério, que exige nossas reflexões – e a tomada de atitudes. Pois a impressão que dá é que vivemos na geração da preguiça mental, o que condenará aqueles que aceitarem a mediocridade de pensamento a uma vida de pouca aquisição intelectual, pouco conhecimento bíblico, pouca dedicação a disciplinas espirituais, pouca leitura, pouca paciência, pouca reflexão, pouca transformação, pouco crescimento… e muita limitação, mediocridade e superficialidade.

Concentração é algo fundamental para o desenvolvimento do indivíduo e das sociedades. A filosofia grega só surgiu porque aquela sociedade viveu, 2.400 anos atrás, um contexto social que permitia às pessoas ter tempo para pensar e refletir e, com isso, evoluir, transformar-se. Se os gregos da época de Sócrates, Platão, Tales de Mileto e outros tivessem preguiça de ler 8 parágrafos ou ouvir por 5 ou 6 minutos alguém… o pensamentos ocidental dos últimos muitos milênios teria sido paupérrimo. Graças a Deus aqueles homens se dedicavam a horas e horas de participação nas ágoras, a leituras extensas, a aprofundamento e crescimento. Deu no que deu.

Tente imaginar quanto tempo Jesus levou para ministrar o Sermão do Monte. Já pensou se as pessoas que o estavam ouvindo desistissem de escutá-lo após 3 minutos de preleção? Talvez nem tivessem chegado ao final das bem-aventuranças! Os israelitas adoraram um bezerro de ouro porque foram vencidos pela impaciência ao esperar a descida de Moisés do monte. Saul sacrificou indevidamente porque considerou demais o tempo de chegada de Samuel. Sara não teve paciência de esperar e nasceu Ismael, o pai do povo árabe. A Bíblia mostra que a impaciência sempre gera maus frutos, enquanto a paciência, que é uma das virtudes do fruto do Espírito, gera frutos excelentes. Lembre-se da paciência de Jó, Davi, José e tantos outros que valorizaram o tempo certo para todas as coisas. Leve o tempo que levar! Leia Salmos 37.7; 40.1; Provérbios 25.15; Eclesiastes 6.8.

Meu irmão, minha irmã, se você chegou até este ponto da leitura, parabéns. Saiba que já percorreu 12 parágrafos. Isso prova, sem sombra de dúvida, que você tem o que é necessário para ser um leitor capaz de crescer diariamente no conhecimento e na reflexão sobre as coisas da vida cristã. Se lhe disserem o contrário, não acredite.

Portanto, fica a recomendação, em amor: use esse seu belo cérebro, que é perfeitamente capaz de se concentrar, adquirir conteúdo, refletir sobre o que leu ou ouviu e de tomar decisões de mudança de vida, para crescer no conhecimento, na renovação da mente e no avanço espiritual. Derrote os mentirosos que inventaram o conceito diabólico de “textão”, destinado a condenar o povo de Deus à mediocridade intelectual e espiritual. Você pode. Você consegue. Você é capaz.

Termino este meu texto (“ão” ou “inho”? Você decide) com uma reflexão: o Espírito Santo registrou sua verdade sagrada em um livro que contém cerca de 785 mil palavras, num total de 106 mil parágrafos e 3,6 milhões de letras. Repito: 785 mil palavras! Agora, por favor, me responda: você realmente acha que, se Deus estivesse mais preocupado com o tamanho dos textos do que na importância da leitura (gaste-se quanto tempo for necessário), ele teria registrado tudo num calhamaço de 785 mil palavras? Diante dessa realidade, você pode escolher: ou passa a acreditar na verdade divina de que não importa o tamanho do texto, mas, sim, sua qualidade, ou desiste de ler as Escrituras sagradas, porque, afinal, como diz o pensamento diabólico… senta que lá vem textão!

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari

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