Lucas 12:4-7
Comentário de Catena Aurea
Ver 4. E digo-vos meus amigos: Não temais os que matam o corpo, e depois disso não têm mais o que fazer. 5. Mas eu vos avisarei a quem deveis temer: Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno, sim, eu vos digo: Temei-o. 6. Não se vendem cinco pardais por dois centavos, e nenhum deles é esquecido diante de Deus? 7. Mas até os cabelos de sua cabeça estão todos contados. Não tema, portanto: você vale mais do que muitos pardais.
AMBROSE; Já que a incredulidade brota de duas causas, ou de uma malícia profundamente arraigada ou de um medo repentino; para que ninguém de terror seja compelido a negar o Deus a quem ele reconhece em seu coração, Ele bem acrescenta: E eu digo a vocês, meus amigos: Não tenham medo dos que matam o corpo, etc.
CIRIL; Pois não é absolutamente a todos que esse discurso parece se aplicar, mas àqueles que amam a Deus de todo o coração a quem pertence dizer: Quem nos separará do amor de Cristo? Mas aqueles que não são assim, estão cambaleando e prontos para cair. Além disso, o Senhor diz: Ninguém tem maior amor do que este, que um homem dá sua vida por seus amigos. Como, então, não é muito ingrato a Cristo não retribuir a Ele o que recebemos?
AMBROSE; Ele nos diz também que aquela morte não é terrível pela qual a imortalidade deve ser comprada a uma taxa de juros muito mais cara.
CIRIL; Devemos então considerar que as coroas e honras estão preparadas para os trabalhos daqueles sobre quem os homens estão continuamente desabafando sua indignação, e para eles a morte do corpo é o fim de suas perseguições. De onde ele acrescenta: E depois disso não têm mais nada que possam fazer.
BEDE; Sua raiva, então, é apenas um delírio inútil, que lança os membros sem vida dos mártires para serem despedaçados por animais selvagens e pássaros, visto que eles não podem de modo algum impedir a onipotência de Deus de vivificá-los e trazê-los à vida novamente.
CRIS. Observe como nosso Senhor torna Seus discípulos superiores a todos, exortando-os a desprezar aquela morte que é terrível para todos. Ao mesmo tempo, também lhes traz provas da imortalidade da alma: acrescentando, eu vos avisarei a quem deves temer: temei aquele que, depois de morto, tem poder para lançar no inferno.
AMBROSE; Pois nossa morte natural não é o fim do castigo; e, portanto, Ele conclui que a morte é a cessação do castigo corporal, mas o castigo da alma é eterno. E somente Deus deve ser temido, a cujo poder a natureza não prescreve, mas ela mesma está sujeita; acrescentando: Sim, eu vos digo: Temei-o.
TEOFIL. Aqui observe que a morte dos pecadores é enviada como punição, pois eles são atormentados pela destruição e depois lançados no inferno. Mas se você peneirar as palavras, entenderá algo mais longe. Pois Ele não diz: "Quem lança no inferno", mas tem poder para lançar. Pois nem todo aquele que morre em pecado é imediatamente lançado no inferno, mas às vezes há perdão por causa das ofertas e orações que são feitas pelos mortos.
AMBROSE; Nosso Senhor então incutiu a virtude da simplicidade, despertou um espírito corajoso. Somente a fé deles estava vacilando, e bem Ele a fortaleceu, acrescentando a respeito de coisas de menor valor: Não se vendem cinco pardais por dois centavos? e nenhum deles é esquecido diante de Deus. Como se dissesse: Se Deus não se esquece dos pardais, como pode ser homem?
BEDE; O dipondius é uma moeda de menor peso e igual a dois asnos.
LUSTRO. Ora, o que em número é um é em peso um asno, mas o que é dois é um dipondio.
AMBROSE; Mas talvez alguém diga: Como é que o apóstolo diz: O Senhor cuida dos bois? ao passo que um boi vale mais que um pardal; mas cuidar é uma coisa, ter conhecimento é outra.
ORIGEM; Literalmente, aqui é significada a rapidez da previsão divina, que atinge até as menores coisas. Mas misticamente, os cinco pardais representam justamente os sentidos espirituais, que têm percepção das coisas elevadas e celestiais: contemplar Deus, ouvir a voz divina, saborear o pão da vida, cheirar o perfume da unção de Cristo, manusear a Palavra da Vida. E estes sendo vendidos por dois centavos, isto é, sendo levianamente estimados por aqueles que contam como perecível tudo o que é do Espírito, não são esquecidos diante de Deus. Mas diz-se que Deus se esquece de alguns por causa de suas iniqüidades.
TEOFIL. Ou esses cinco sentidos são vendidos por dois centavos, ou seja, o Novo e o Antigo Testamento, e, portanto, não são esquecidos por Deus. Daqueles cujos sentidos são entregues à palavra da vida para que possam ser aptos para o alimento espiritual, o Senhor está sempre atento.
AMBROSE; Se não; Um bom pardal é aquele que a natureza dotou com o poder de voar; pois a natureza nos deu a graça de voar, o prazer a tirou, que carrega de carne a alma dos ímpios e a molda à natureza de uma massa carnal. Os cinco sentidos do corpo, então, se procuram o alimento da liga terrena, não podem voar de volta para os frutos das ações superiores. Um mau pardal, portanto, é aquele que perdeu o hábito de voar por culpa do rastejar terrestre; tais são os pardais que são vendidos por dois centavos, ou seja, ao preço do luxo mundano.
Pois o inimigo estabelece seus escravos cativos, por assim dizer, pelo preço mais baixo. Mas o Senhor, sendo o justo juiz de Sua própria obra, redimiu por um grande preço a nós, Seus nobres servos, a quem Ele fez à Sua própria imagem.
CIRIL; É Seu cuidado então diligentemente conhecer a vida dos santos. Daí segue, Mas os cabelos de suas cabeças estão todos contados; com o que Ele quer dizer, que de todas as coisas que se relacionam com eles, Ele tem o conhecimento mais preciso, pois a numeração manifesta a minúcia do cuidado exercido.
AMBROSE; Por fim, a numeração dos cabelos não deve ser feita com referência ao ato de calcular, mas à capacidade de conhecer. No entanto, dizem que são numeradas, porque as coisas que desejamos preservar são numeradas. CIRIL; Agora, misticamente, de fato, a cabeça de um homem é seu entendimento, mas seus cabelos são os pensamentos, que estão abertos aos olhos de Deus.
TEOFIL. Ou, pela cabeça de cada um dos fiéis, deve-se entender uma conversa digna de Cristo, mas por seus cabelos, as obras de mortificação corporal que são numeradas por Deus e dignas da consideração divina.
AMBROSE; Se, então, é a majestade de Deus, que um único pardal ou o número de nossos cabelos não está além de Seu conhecimento, quão indigno é supor que o Senhor é ignorante dos corações dos fiéis, ou os despreza para considerá-los de menor valor. Por isso, ele conclui: Não temas, então, você é de mais valor do que muitos pardais.
BEDE; Não devemos ler, Você é mais, que se relaciona com a comparação do número, mas você é de mais valor, isto é, de maior estimativa aos olhos de Deus.
ATÃ. Agora eu pergunto aos arianos, se Deus, como se desdenhasse fazer todas as outras coisas, fez apenas Seu Filho, mas entregou todas as coisas ao Seu Filho; como é que Ele estende Sua providência até mesmo para coisas insignificantes como nossos cabelos e os pardais? Pois sobre todas as coisas que Ele exerce Sua providência, dessas coisas Ele é o Criador por Sua própria palavra.