Êxodo 4:22
Comentário Bíblico de João Calvino
22. Israel é meu filho, até meu primogênito. Assim, Deus refuta, por antecipação, o único pretexto pelo qual o Faraó poderia justificar sua recusa em deixar o povo ir. Pois Jacó havia se submetido espontaneamente e toda a sua família ao governo; ele tinha então poder livre para reter o povo, o qual, pela lei comum das nações, estava sujeito ao domínio do Egito. Mas se for um ato de impiedade violar a ordenança instituída por Deus, a exigência de Moisés pode parecer imprópria, para que a autoridade legítima do rei seja abolida contra sua própria vontade. Pois qual era o objetivo de propor a partida do povo, exceto obrigar o rei a renunciar à sua própria autoridade? Para mostrar, então, que ele não tirou nada de forma injusta ou injustificada de Faraó, Deus alega o privilégio pelo qual os israelitas foram excluídos das leis comuns; pois chamando-os Seus filhos, Ele reivindica liberdade para eles; uma vez que seria absurdo que o próprio Deus, o supremo Governador do céu e da terra, fosse privado dos filhos que Ele se dignara a adotar. Ele, portanto, compara indiretamente seu próprio poder paterno com o domínio terrestre do Faraó; porque nada poderia ser menos razoável do que um mortal se recusar a ceder ao Criador de si mesmo e de todo o mundo. Ainda assim, isso não é aplicável a todos os crentes em geral; como se fosse errado que eles estivessem sujeitos a reis, ou como se sua sujeição temporal os privasse de sua herança do mundo; mas aqui é mencionada apenas a prerrogativa especial com a qual Deus havia honrado a posteridade de Abraão, quando ele lhes deu o domínio da terra de Canaã. Portanto, não contente com a simples denominação de filho, Ele chama Israel de seu primogênito. Por esse título honroso, ele inquestionavelmente o prefere às outras nações; como se dissesse que foi criado ao nível da primogenitura e era superior a todo o mundo. Essa passagem, portanto, pode ser acomodada ao chamado dos gentios, a quem Deus já havia decretado entrar em comunhão com seu povo eleito, para que, embora fossem mais jovens, pudessem se unir ao primogênito. Eu admito, de fato, que toda a raça de Adão foi abandonada; mas, como Adão foi feito à imagem de Deus, sua posteridade sempre foi considerada, em certo sentido, como filhos de Deus; pois, embora eu admita prontamente que a santa descendência de Abraão é aqui comparada com as nações que na época ainda eram pagãs, e que, a esse respeito, são chamadas de seu primogênito, porque são preeminentes em dignidade; ainda assim devemos chegar a Cristo, a única cabeça, para que a adoção seja certa. Pois devemos nos apegar a essa afirmação de São Paulo, de que as bênçãos de Abraão não foram prometidas para suas sementes, mas para sua semente; porque nem todos os que brotaram de sua carne são considerados filhos, mas os que foram chamados; como Isaque, Ismael sendo rejeitado, e como Jacó, Esaú passando. (Gálatas 3:16; Romanos 9:6.) Mas Cristo é a raiz do nosso chamado. Portanto, o que em Oséias é falado, como aqui, de todo o povo, Mateus limita a Cristo; e justamente, uma vez que somente nEle se encontra a graça da adoção. (Oséias 11:1; Mateus 2:15.)